sábado, 9 de março de 2013

ACIDENTE NO MOTEL (mini-conto)

Ele havia procurado por muito tempo um motel discreto e distante, afinal não poderia dar bandeira com noiva prendada e caseira, quase personagem de Nelson Rodrigues. Com ela não havia avanço de sinal apesar do novo século inaugurado há  pouco. Eram beijinhos, carícias, mãozinha prá cá, mãozinha prá lá, mas na hora do bem bom...
Tinha suas amigas aqui, acolá e preferencialmente bem depois do acolá. O motel sempre distante, entrada discretíssima, sem luminosos tradicionais, árvores camuflando a entrada...quase um convento. Era perfeito para quem  precisava manter uma imagem ascética como a dele. 
Ou melhor... o motel era quase perfeito, a ausência de garagem coberta e fechada era o único defeito. No início desconfiara em deixar o carro exposto mas com o tempo observou que as placas dos carros eram de cidades distantes, afinal estava a mais de oitenta quilômetros de casa. Esta mania não perderia jamais. Conferir placas dos carros que se enfileiravam ao lado dos chalés.
Naquela tarde de terça-feira saiu com sua loira amiga do quarto do motel meio apressado, se perdera no horário e tinha que visitar um cliente antes das cinco da tarde. A pressa fez com que colidisse levemente com o carro estacionado à porta do chalé vizinho. Uma batida leve mas suficiente para amassar o frágil para-choque do bonito carro que lhe pareceu familiar. A mania de conferir as placas dos carros estacionados o fez sorrir. Ele conhecia aquela carro!
Desceu e olhou pelo vidro dianteiro. Sim! Era o carro do seu amigo mais chegado. Tranquilo com a descoberta saiu feliz por encontrar mais um companheiro de aventuras.
No dia seguinte, com um sorriso safado no canto da boca, perguntou ao amigo:
- Cadê teu carro?
- Está na oficina consertando um amassadinho.
- Ah! ...sei...sei. E como foi este amassadinho, ou melhor aonde foi que isto aconteceu? disse irônico.
- Não sei aonde foi. O carro estava com minha mulher. Ontem à tarde ela foi visitar umas amigas e você sabe como é que é mulher na direção.
Empalideceu e se retirou rapidamente enquanto pensava se contava ou não o que havia acontecido.
 Decidiu não contar nada.
Decidiu mais ainda, romper o noivado e nunca se casar.

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