sábado, 9 de março de 2013

Fascismo (I) (Ensaio)


“All I have is a voice
To undo the unfolded lie”
W.H. Auden

Algumas palavras viram tabu nos dias de hoje. 
 Rob Riemen em seu livro, o Eterno Retorno do Fascismo cita a palavra “problema” como tal para os americanos. Preferem “desafio” para a situação que antes merecia ser chamada de “problema”. É o fenômeno da negação, como se negando as palavras se mudariam os fatos. Percebe-se que em muitos lugares a palavra “fascismo” também é tabu. 
Nos movimentos políticos atuais existe a extrema-direita, o conservadorismo radical, o populismo, mas nada de fascismo. Vivemos em democracia e seria ofensa dizer que existe o fascismo.
Vocês devem se lembrar de Albert Camus em seu livro “ A Peste”.  Naquela alegoria do fascismo tudo começa com um médico se deparando com um rato morto no patamar. No dia seguinte mais ratos mortos que se sucedem. A eles advêm doentes com os mesmos sintomas de inchaços, erupções cutâneas e delírio que se traduzirão em morte em quarenta e oito horas.
Todos sabem que se trata de uma epidemia, mas enquanto for possível será negada a verdade pois não há mais disso por aqui.
Quando tudo se resolve, enquanto a multidão eufórica comemorava, o médico não compactua com a declaração oficial. Ele sabe que o bacilo da peste não morre nem desparece nunca. Pode ficar dormente por anos, mas chegará o dia em que para desgraça dos homens a peste acordará seus ratos.
Conclui-se que o bacilo fascista estará sempre presente no corpo da democracia de massas.  Se nos importa combater esta peste, primeiro temos que admitir que nossa sociedade está contaminada e chamá-lo pelo seu nome: fascismo!
Não se pode esconder a cabeça na areia, não se pode negar o problema, é preciso se lembrar que aquele que não aprende com a história está condenado a vê-la repetir-se. 
O fascismo desemboca no despotismo e na violência.
 O prenúncio é a regra substituindo o diálogo. O membro da equipe se torna apenas um servidor do déspota.  Em nome da eficiência se penaliza e se institui o terror.
Lentamente a espinha se dobra.
O homem-massa está na sala de espera a apontar o dedo e exigir atenção.

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